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Fluminense perde no fim para o Lanús e leva decisão da Sul-Americana ao Maracanã

Fluminense perde no fim para o Lanús e leva decisão da Sul-Americana ao Maracanã

Jogo truncado, estádio pulsando e um golpe no minuto 89

Uma partida inteira de equilíbrio e nervos à flor da pele virou de cabeça para baixo no último suspiro. Em Lanús, na Grande Buenos Aires, o Fluminense resistiu por quase 90 minutos, mas levou 1 a 0 com gol de Marcelino Moreno, aos 89, e saiu em desvantagem no jogo de ida das quartas de final da Copa Sudamericana. O caldeirão do Ciudad de Lanús, com mais de 35 mil vozes, empurrou o time da casa até a jogada que decidiu a noite.

O roteiro foi claro desde o apito inicial: o Lanús tentaria acelerar pelos lados e atacar o espaço nas costas da linha defensiva, enquanto o Tricolor procuraria controlar o ritmo com posse mais longa e circulação paciente. O lado esquerdo argentino foi o ponto de partida de quase tudo. Sasha Marcich apareceu várias vezes em ultrapassagens, Eduardo Salvio puxou o jogo por dentro e abriu corredor, e Marcelino Moreno foi o cérebro e a faca — primeiro na construção, depois na ferida.

No primeiro tempo, os donos da casa chegaram com perigo em finalizações de média distância e cruzamentos fechados. Uma batida de Marcich passou por cima, tirando tinta do travessão, e as combinações com Salvio mexeram com a linha tricolor. Do outro lado, o Fluminense segurou bem a área com a experiência de Thiago Silva, encurtou espaços entre zaga e meio, e tentou responder quando achou campo para transitar. Faltou, porém, transformar as saídas em chances limpas.

Depois do intervalo, a partida ficou ainda mais física. O Lanús alternou pressão alta com bloco médio para não se expor. O Fluminense, sentindo a necessidade de respirar com a bola, procurou acelerar em alguns momentos para surpreender, mas esbarrou na proteção da entrada da área e na contundência dos zagueiros argentinos nos duelos. As bolas paradas pareciam um caminho, só que as segundas bolas quase sempre ficaram com os donos da casa.

Quando o relógio se aproximava dos 90, veio a situação que o Lanús esperou a noite toda. O time argentino recuperou a bola e acelerou a transição num contra-ataque que pegou a última linha brasileira desajustada. Moreno atacou o espaço, recebeu em condição de finalizar e não perdoou. A explosão nas arquibancadas selou um resultado construído com insistência e leitura de jogo: se a partida não se abriu no toque, se abriria na corrida.

Para o Fluminense, a sensação é de frustração. A equipe conseguiu manter o placar zerado por longos trechos e, mesmo sem criar uma enxurrada de chances, parecia encaminhar um 0 a 0 administrativo fora de casa. O gol no fim muda o humor e exige uma resposta forte no Maracanã. Na prática, foi um daqueles jogos em que um erro de cobertura e um timing atrasado na recomposição custam caro no mata-mata sul-americano.

O que muda para a volta no Maracanã

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O regulamento hoje não tem gol qualificado. Isso simplifica a conta: vitória por um gol de diferença leva a decisão para os pênaltis; triunfo por dois ou mais coloca o Tricolor direto na semifinal. Qualquer empate beneficia o Lanús. Ou seja, o peso da primeira bola, do primeiro duelo aéreo e de um eventual gol cedo no Maracanã é gigantesco para conduzir o jogo à zona de conforto do mandante.

O Lanús sai da ida com mais do que a vantagem mínima. Sai com uma ideia bem clara do que funciona: bloco compacto, coberturas rápidas, corredores prontos para a transição e Moreno como referência de última bola. Mesmo com cinco desfalques por lesão, a equipe argentina sustentou intensidade, misturou veteranos e garotos da base e mostrou cultura competitiva típica do futebol local — travou o ritmo, ganhou divididas, não deu espaço para que o Fluminense encaixasse sequência de passes na meia-lua.

Para virar o confronto, o time carioca precisa de ajustes práticos. Primeiro, ativar o corredor direito e alternar altura dos pontas para esticar a marcação, abrindo janelas para infiltrações de segunda linha. Segundo, acelerar após recuperar a bola, especialmente quando o Lanús estiver em fase de construção — os melhores momentos do Tricolor vieram quando o rival estava desorganizado. Terceiro, valorizar as bolas paradas ofensivas com jogadas ensaiadas que busquem o segundo pau, zona onde o time argentino costuma concentrar os zagueiros e pode sobrar espaço no rebote.

Há também a gestão emocional. O placar em casa vai mexer com o ambiente, e o Maracanã cheio costuma alterar o jogo, empurrando, gerando sequência de escanteios e empates nos duelos que viram meio lance. A equipe precisa transformar essa energia em pressão inteligente: recuperar rápido após perda, encurtar campo e impedir que o Lanús respire entre uma ação e outra. Tão importante quanto atacar é impedir os contragolpes — a origem do 1 a 0 na ida.

O recorte histórico dá um tempero extra. O Lanús conhece o caminho de mata-mata continental e já levantou a taça da Sudamericana na década passada, além de chegar longe na Libertadores. Não é terreno desconhecido. Para o torcedor tricolor, o recado é direto: há margem para reverter, mas sem atalhos. Organização defensiva, volume ofensivo sem desguarnecer a retaguarda e eficiência nas primeiras chances serão determinantes.

Em termos de elenco, a noite na Argentina serviu de termômetro: Thiago Silva ancorou a retaguarda por grande parte do jogo, mas a equipe precisa proteger melhor o espaço entre lateral e zagueiro, justamente onde o Lanús encontrou superioridade. A cobertura do volante no lado da bola, a basculação da linha e o tempo de pressão no portador precisam estar sincronizados para não virar convite a mais transições.

Do outro lado, o Lanús chega ao Rio com um plano simples e sólido: controlar o relógio, explorar nervosismo, acelerar quando recuperar e apostar no talento de Moreno e na leitura de Salvio para tirar a defesa da zona de conforto. O time argentino não precisa da bola o tempo todo; precisa, sim, das zonas certas no campo para atacar com poucos toques.

O duelo segue aberto e com cara de mata-mata sul-americano: margem curta, detalhes pesando e um estádio inteiro pronto para empurrar. A vantagem é do Lanús, mas a decisão está na casa do Tricolor. É o tipo de noite em que uma dividida vencida, um desvio no escanteio ou uma defesa salvadora mudam a história de um confronto. E é nessa linha tênue que o Fluminense terá de caminhar para seguir vivo na Copa Sudamericana.

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