Abigail Disney não tem medo de falar alto quando o assunto é concentração de capital nos Estados Unidos. Aos 65 anos, neta do co‑fundador da Disney, ela se tornou uma das vozes mais críticas do chamado ultra‑rico, acusando quem acumula fortunas acima de US$ 999 milhões de ter atitudes quase sociopáticas.
Uma herança que virou ferramenta de luta
Apesar de ter herdado cerca de US$ 120 milhões, Disney decidiu, ainda na década de 1990, doar a maior parte de sua fortuna. Segundo ela, já destinou mais de US$ 70 milhões a causas sociais, desde apoio a refugiados até iniciativas de justiça climática. Contudo, na perspectiva da ativista, esses gestos não resolvem a raiz do problema.
"A necessidade de tributar ricos como eu nunca foi tão urgente", escreveu em entrevista ao The Guardian. Para Disney, o que impede a redução das desigualdades não é a falta de boa vontade dos bilionários, mas a própria estrutura de acumulação de riqueza, que se auto‑reforça e se torna "quase impossível de se desfazer".
Atuante como cineasta e produtora, ela utilizou seus projetos de documentário para expor os impactos da desigualdade nas democracias ocidentais. Seu último filme, ainda em fase de pós‑produção, analisa como a concentração de poder econômico influencia decisões políticas, especialmente em áreas como saúde pública e meio ambiente.

Do ativismo à proposta de imposto sobre a fortuna
Disney integra a organização Patriotic Millionaires, que reúne milionários dispostos a pagar impostos mais altos para financiar serviços públicos e reduzir o fosso entre ricos e pobres. O grupo tem defendido um imposto sobre a riqueza que, segundo eles, poderia gerar trilhões de dólares ao longo de uma década.
Em suas declarações, a herdeira também critica personalidades como Elon Musk e o ex‑presidente Donald Trump, apontando que, enquanto um corta programas de saúde global, o outro usa sua fortuna para manipular processos democráticos. Para ela, esses comportamentos revelam um "medo patológico de perder tudo" que impede que os mais ricos assumam riscos em prol da sociedade.
Mesmo citando exemplos de filantropos como MacKenzie Scott e Warren Buffett, Disney destaca que doar grandes somas não substitui reformas estruturais. "A caridade individual pode ser admirável, mas não chega a reparar o desequilíbrio que nasce da própria acumulação de riqueza", afirmou.
Segundo estudos citados por Disney, países com maior concentração de patrimônio tem maior vulnerabilidade a crises políticas e menor confiança nas instituições. Ela argumenta que a única forma de reverter esse cenário é por meio de políticas públicas que taxem de forma progressiva, redistribuam recursos e garantam acesso universal a saúde, educação e moradia.
Para a ativista, o papel dos bilionários mudou: não basta mais ficar à margem dos debates. Ela os convoca a "bater como se a própria democracia dependesse disso", ressaltando que o medo de perder riqueza é paradoxal, já que quem tem mais recursos tem menor disposição a arriscar em mudanças que beneficiem a maioria.
Abigail Disney encerra seu apelo lembrando que a luta contra a desigualdade não é um jogo de números, mas de princípios. "Quanto mais você tem, mais tem medo de perder. É hora de transformar esse medo em coragem para construir um futuro mais justo".
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